A família Delarco vem imprimindo uma gestão inspiradora fora e dentro do campo, focando na produção de cana-de-açúcar de maneira estratégica e sustentável.
A história da família Delarco está ligada com a história da agricultura brasileira. Desde que seus descendentes desembarcaram no Brasil para trabalhar nas lavouras de café na região de Marcondésia, interior de São Paulo, a vocação para trabalhar com a terra tem passado de geração em geração.
A riqueza que fluía pelos cafezais acelerou o desenvolvimento do país. Para auxiliar sua produção, o governo paulista e os grandes fazendeiros incentivavam a vinda de imigrantes, cerca de aproximadamente 4 milhões de imigrantes entre o final do século XIX e início do XX, vindos especialmente da Europa. Em busca de novos horizontes, o casal Maria Inácia Sanches e Joaquim Del Arco, decidiram se aventurar no Brasil. Determinados e com muita coragem, eles atravessaram o oceano, com seus filhos Matheus Del ’Arco, Casimiro Del ’Arco, Maria Josefa Del ’Arco, Gerônimo Del ’Arco e Agustinha Del’ Arco, Amélia Del’ Arco e Inácio Del’ Arco, sendo que os dois últimos nasceram na Espanha, mas foram batizados no Brasil.
O começo de uma aventura
Uma longa viagem rumo ao desconhecido, repleta de obstáculos, mas cheia de esperança. Somente quando chegavam aos portos brasileiros as famílias descobriam para qual região do país seriam levadas. O casal Del Arco desembarcou no porto de Santos, fez a primeira parada em São Paulo, passou por Piracicaba e se fixou em Jaboticabal. Dali para frente, o percurso fora feito a pé.
“Imaginem, a distância de Jaboticabal para Marcondésia naquela época? Era muito chão! Outros familiares se fixaram na região de São José do Rio Preto. Todos nasceram na Espanha, mas naquela época, o que contava era o registro de batismo. Dos sete filhos, cinco foram batizados na Espanha e dois no Brasil. Do casamento de Inácio Del’Arco com Antônia Arroyo nasceram 8 filhos entre os quais Joaquim Luiz. Meu avô, na Espanha, seu nome era Inácio, mas aqui foi batizado como “Luiz”, conta Renato Ducati Delarco, da terceira geração da família.
O sobrenome da família do seu Joaquim também mudou nesta aventura, de Del Arco passou a ser chamado de Delarco: “Os irmãos do meu pai são Del Arco, mas o Sr. Joaquim de Delarco, por erro de cartório e não conseguiu retificar. Mas, tanto Del Arco como Delarco têm a mesma origem”, explica Renato.
Colonizando as terras
O começo da aventura em solo brasileiro foi desbravador. Assim que chegou em Marcondésia, o casal de espanhóis comprou uma propriedade de 30 alqueires. Ao conhecer as terras, na época envolta de mata, encontraram uma grande árvore que fora transformada em cabana. “Eles moraram lá até desbravar e colonizar toda a região. Posteriormente, eles compraram terras de brasileiros. À época, a minha bisavó, era o braço forte da família, pulso de ferro, administrava tudo e comprava as propriedades, com muita visão”.
Apesar das dificuldades, o Brasil era mesmo um país melhor para viver. A família de espanhóis criava laços fortes com o país e com a agricultura. Com muito trabalho, a família cresceu e prosperou com o cultivo de café. Com riqueza de detalhes, Joaquim Luiz conta que as técnicas de produção de café eram simples. “O café era cultivado por colonos e nós trabalhávamos com o sistema de meeiros, não tinha tanta mão-de-obra. Para se ter uma ideia, quem tinha filhos, os pais os levavam para limpar os troncos antes da colheita, que era feita manualmente. Os grãos de café eram secos em terreiros. Depois disso, colocávamos em sacos e à tarde passava o carrinho para colher. Onde eu nasci tinha muita pedra. Então, quando chegávamos na fazenda, tínhamos que lavar esse café para fazer a separação do grão e das pedras”, relembra Joaquim.
Uma vez seco, o café era beneficiado, através de monjolos, máquinas primitivas de madeira formadas por pilões socadores movidos a força d’água.
Do café para a citricultura
Assim como a maioria dos produtores, a família Delarco migrou para a citricultura. “O meu pai sempre cultivou café. Quando a laranja chegou por aqui, ele não queria de jeito nenhum. Na fazenda, tinha uma colônia com 10 casas e um dos rapazes que trabalhava conosco na lavoura formou, no seu quintal, mudas de laranja e deu uma parte para o meu pai. Então, plantamos quase mil pés de laranja. A plantação foi aumentando e os cafezais foram dando lugar aos pomares de laranja”, conta Joaquim Luiz.
“Lembro que para combater as formigas, eu e meu irmão pegávamos saquinho de leite para fazer uma proteção em volta do caule do pé de laranja. Esse procedimento era chamado de mini saia”, conta Renato.
Um homem polivalente
Desde cedo Joaquim Luiz aprendeu a pegar a enxada e ajudar a arar a terra. “Eu trabalhava na fazenda desde os oito anos. Assim que chegava da escola, almoçava e já pegava na enxada para capinar o café. Fui aprendendo a trabalhar e meu pai gostava que eu o ajudasse na lida”, recorda.
E não era só na terra que Joaquim trabalhava. Ele conta que seu pai também investiu numa serralheria com a ajuda de um alemão: “Ele montou a serralheria e eu aprendi a função para ajudá-lo. Lembro-me quando ele pôs a primeira tora para mostrar como funcionava. Depois, meu pai comprou uma máquina de benefício de café e fui aprendendo outras tarefas. Por escolha do meu pai, meu irmão Elizeu era o maquinista e eu era o balanceiro, a função mais pesada”, conta aos risos, continuando: “Eu punha os sacos na balança e depois jogava nas costas e fazia aquilo brincando”.
Sempre disposto a aprender, Joaquim Luiz também aprendeu a soldar corrente de ferro com areia. E não parou por aí “. Quando meu pai comprou seu primeiro trator, o acompanhei. Assim que fechou o negócio, ele me pediu que subisse no trator e pilotasse até em casa, pois ele iria a pé , e eu nunca tinha dirigido um trator antes”, conta o produtor, sorrindo.
Mais uma vez, Joaquim Luiz foi autodidata e aprendeu a pilotar o maquinário sozinho: “Lembro-me que, no primeiro dia em que arei as terras, eu não conseguia mexer o pescoço de tão travado que fiquei. No outro dia de manhã, quando fui ligar o trator não dava partida e não tinha ninguém que soubesse mecânica”, recorda-se. Restava, então, ao produtor rural improvisar: “Pedi ajuda a uma família que me deu quatro pedaços de barbante. Consegui encaixá-lo em um eixo que tinha molas, dei partida e pegou que foi uma beleza”, conta, o produtor, que viveu inúmeras aventuras.
O casamento
A vida também lhe reservava sucesso no amor. Em um sábado, Joaquim Luiz conheceu sua esposa Vilma Ducati em uma livraria, no centro de Monte Azul Paulista: “Eu ia passear no centro aos sábados e, nesta época, um primo meu tinha uma livraria. E passei por lá, para comprar um livro. Ela estava lá e meu primo disse que ela era uma moça boa para casar. Nos conhecemos, namoramos por cinco anos e depois, nos casamos”.
O casamento aconteceu em 1963 e desta união nasceram dois filhos, Renato e Ricardo.
“Meu pai nunca facilitou a nossa vida. Tínhamos que trabalhar para conseguir o que queríamos. Ele sempre foi assim (mostrando a mão, com o punho fechado). Quando me casei, pedi dinheiro a ele, que me disse, não. Então, vendi uma vaca por 24 cruzados, pois eu precisava comprar um terno. O orçamento foi justamente o preço da vaca”, conta Joaquim, aos risos.
Após o casamento, Joaquim Luiz mudou-se para Monte Azul para trabalhar em uma fábrica de móveis, que pertencia ao seu tio, Julião Arroyo, e a um outro sócio.
A escolha de Joaquim Luiz de sair do campo para a cidade, não agradou o seu pai. Mas, a experiência em administrar um negócio diferente lhe trouxe novas perspectivas.
O responsável pela fábrica iria tirar férias por um ano, mas antes tinha como missão ensinar Joaquim a administrar o novo negócio: “Eu nasci e me criei na roça e não tinha experiência alguma com a fábrica de móveis. A loja era a maior da região na época. O dono foi viajar, mas não me ensinou absolutamente nada!” conta, de forma incrédula.
Observador, Joaquim logo encontrou ajuda de um bom marceneiro e passou a exercer a função com excelência: “Aprendi com o tempo, comprava os materiais com os viajantes que passavam pela cidade. Mas, o começo foi difícil pois tive que descobrir sozinho como era feito o trabalho. Certa vez, um cliente me perguntou quanto custava para fazer um guarda-roupa. Eu não sabia precificar. Disse a ele que iria marcar e depois passaria o orçamento. Eu dividi os custos por metro quadrado e fui aprendendo a administrar o negócio no dia a dia”.
Passados um ano, o sócio retornara a Monte Azul: “Com a sua volta, meu tio Julião comprou a parte do outro sócio para que eu pagasse no futuro – e por lá eu fiquei 11 anos”.
De volta às origens
O patriarca da família Del Arco faleceu em 1972. Mas, em vida dividiu todas as propriedades entre seus filhos, por sorteio: “Voltei para a trabalhar na agricultura pouco tempo antes do meu pai falecer. Disse ao meu tio que precisava cuidar do que era meu”, relembra.
Durante um tempo, Joaquim Luiz administrou as terras com os seus irmãos Elizeu e Julião. Depois, dividiram as propriedades e ele continuou investindo na laranja.
Terceira geração
Com as mudanças na agricultura, a família diversificou. Assim como aconteceu com o café, que cedeu espaço para a laranja, a família passou a investir em cana-de-açúcar: “Quando migramos da laranja para a cana-de-açúcar, ainda não se falava em Greening. Mas, a cultura já sofria com o surgimento de outras pragas, como o CVC e o cancro cítrico. Com o tempo, decidimos investir em cana porque a cultura se despontava como um bom negócio”, explica Renato.
A missão de continuar o legado da família foi passada aos filhos Renato e Ricardo. Ambos seguiram carreira em engenharia agrônoma. O mais velho estudou na Universidade Federal de Viçosa, MG e o caçula, graduou-se na Unesp de Jaboticabal. Os irmãos seguem à frente da gestão geral dos negócios da família, investindo numa produção sustentável e de alta performance.
“A nossa obrigação enquanto filhos era estudar e ter um diploma. A minha mãe é professora e nos ensinou que conhecimento é intransferível. Na vida, podemos perder tudo, menos o diploma”, conta Renato, que depois de formado seguiu carreira, trabalhando na área de fertilizantes agrícolas.
“Já o Ricardo, assim que se formou, voltou para ajudar meu pai na administração das propriedades. Eu também contribuía, mas continuei trabalhando nas multinacionais, o que me trouxe uma boa bagagem em administração e mercado. Sempre morei em Monte Azul, mas viajava muito por todo o país, representando as empresas”.
Além do amor pela terra, os irmãos dividiam outro interesse em comum: carros. Juntos, abriram um Centro Automotivo: “Montamos a oficina seguindo a nossa paixão por carros e nos dedicamos a esse segmento durante sete anos. Com a grande demanda, tivemos que parar e priorizar outros negócios”, conta Renato.
Com espírito empreendedor, a família soube investir em diferentes negócios. Também arrendávamos terra. Começamos arrendando terra para a família Ruette, mas logo em seguida também começamos a arrendar terras de outros produtores para poder plantar cana e fornecer para a usina. Com a cana, investimentos na prestação de serviços, desde o preparo do solo à colheita, que era feita de forma manual e posteriormente passou a ser mecanizada. Nesta época prestávamos serviços para a usina Ruette e também cuidávamos da parte da mecanização. Chegamos a ter sete colhedoras e 200 funcionários para trabalhar na colheita”, comenta Renato.
Posteriormente, os irmãos Delarco deixaram a prestação de serviços e passaram a se dedicar à produção de cana-de-açúcar em mais de 55 áreas. Atualmente, a família cuida de 2.340 hectares de cana em propriedades próprias e de parceiros: “Vivemos para a cana”.
Referência no mercado
Os bons resultados nas lavouras são reflexo de investimentos nos processos de qualidade, análises dos mercados, estratégias financeiras e diversificação de culturas. Os irmãos investem em diferentes tecnologias para conseguir canaviais de excelência.
“Em 2020 começamos um trabalho voltado para trazer mais sustentabilidade à produção. Hoje nós estamos integrando os três campos, o químico, o físico e o biológico em nossas áreas e estamos conseguindo entregar resultados significativos, com um trabalho de estruturação do solo, que recebeu o apelido de “berço esplendido”, explica Renato, com orgulho.
O engenheiro agrônomo ressalta que dá para fazer um tratamento sustentável em cana-de-açúcar, de forma economicamente viável. “Basta pensar em sair da caixinha para ver que é possível aumentar a produtividade, buscar uma resistência à seca. Equipamento nós temos no mercado, produtos biológicos, nós temos no mercado. É apenas uma questão de colocar tudo em prática”, analisa.
Com tanta dedicação, os irmãos receberam o prêmio Mastercana Centro-Sul 2022
A inclusão de novas práticas de manejo e inovações em busca da produtividade são alguns dos investimentos da família Delarco. “Além das tecnologias de maquinários e drones, também investimentos na análise de solo. A retirada e a coleta são feitas por empresa terceirizada, mas a interpretação dos resultados é feita por nós. Já fomos grandes fornecedores de cana, trabalhamos como o principal prestador de serviços do grupo Ruette, depois trabalhamos e fornecemos cana para o grupo Biosev e, hoje fornecemos cana para as usinas Nardini e Tietê. É importante ressaltar que mesmo aplicando toda tecnologia, sem a ajuda de parceiros com estrutura fica difícil conduzir o negócio”.
Sucessão
Renato tem três filhos: Augusto, Arthur e Maria Luísa. Augusto, que é formado em Direito e mora em São Paulo, Arthur está estudando administração no Canadá e a esperança de uma possível sucessão está na caçula Maria Luísa, que tem uma ligação com o campo. “Ela está no nono ano, gosta de andar a cavalo, me acompanha no campo, mostrou empolgação para conhecer a Unesp de Jaboticabal. Então, tenho esperanças. Mas, nós esperamos não largar o trono tão cedo. Para essa sucessão, não precisamos de um agrônomo dentro da família, mas de um administrador. Espero que um deles tenha vontade de continuar com esse legado”, revela.
Estar aberto a mudanças e, sobretudo, saber ouvir as pessoas em sua volta é fundamental para ter sucesso na vida e nos negócios: “Ninguém sabe tudo, todos os dias estamos aprendendo alguma coisa nova. Faço questão de ouvir todos os meus funcionários. Conheço suas famílias e seus problemas e temos uma enorme preocupação com saúde e segurança”, orgulha-se o produtor.
A administração dos negócios é dividida entre os irmãos: “Meu pai nos acompanha no dia a dia. A parte de moto mecanização é de minha responsabilidade, pois tenho facilidade com esse setor. O Ricardo cuida dos tratos culturais e temos um agrônomo que trabalha conosco, administrando todas as áreas. Além disso, temos uma pessoa responsável pelo setor financeiro. Tudo que vamos fazer é analisado e debatido. Para qualquer investimento, precisamos da bênção do setor administrativo. O dia a dia é no campo”, explica.
Uniceres: parceria que se fortalece
E para que esta história tenha ainda mais sucesso, Renato enfatiza a importância dos parceiros. “A Uniceres sempre foi voltada para a área de citrus e, recentemente, abriu as portas para o setor de cana. Hoje, a Uniceres é um importante canal de vendas para os nossos negócios.
Para a família Delarco, exercer um trabalho de excelência e valorizar todos que sustentam os negócios da família, são riquezas inegociáveis. Nesse sentido, a parceria com a cooperativa se fortalece a cada dia. “Fazemos muitos negócios com a Uniceres. Hoje, somos referência entre os produtores, mas isso é resultado de um esforço de décadas”.
Um legado não se constrói sozinho. É um trabalho de uma vida inteira com a dedicação de diferentes gerações e apoiadores. Fazer parte dessa história é o que inspira a Uniceres a representar os interesses de seus cooperados, na busca por condições diferenciadas. Colocar em prática os princípios do cooperativismo move a cooperativa a manter seu compromisso para fomentar a agricultura, contribuindo para longevidade das famílias no trabalho no campo.