A história da família Vidotti está alicerçada na vocação pelo trabalho no campo. Com muita habilidade, Clodomiro Vidotti encontrou caminhos para aproveitar cada oportunidade, superar os desafios e prosperar.
Com um grande sorriso no rosto, no auge dos seus 90 anos, Clodomiro Vidotti se intitula uma pessoa de sorte, principalmente para fazer negócios. “Tinha uma luzinha que me acompanhava para eu não fazer besteira,” conta, aos risos. Ele faz parte da terceira geração da família dedicada à agricultura. Seus avós, Vitória Baraldi Vidotti e Ângelo Vidotti, saíram de Jaboticabal para formar uma fazenda na Vila Paraíso, distrito de Pirangi, interior de São Paulo. E desde então, a vocação de trabalhar com a terra permanece na família.
Em meados de 1911, não existiam rodovias que interligavam as cidades e era preciso desbravar as estradas de terras para chegar ao seu tão sonhado destino: “Dizem que minha avó veio com a minha tia no colo e com meu pai no ventre, em cima de uma mula. Eles atravessaram o rio turvo, era uma viagem difícil”, conta Clodomiro.
Foi assim que o Senhor Ângelo e Dona Vitória chegaram à fazenda Santa Maria, onde construíram um forte laço com o lugar e com a agricultura. Através do trabalho na terra, o casal criou seus 11 filhos: Ardelino, José, João, Nico, Écio, Adélia, Alderica, Dirce, Terezinha, Maria e Sebastiana: “Eu nasci na fazenda Santa Maria, na mesma casa em que meu pai nasceu, logo que seus pais vieram de Jaboticabal. Nesta fazenda, nasceram todos os seus filhos. Eu saí de lá aos 20 anos de idade e tenho até hoje uma verdadeira paixão por essa fazenda!”, recorda-se Clodomiro, saudoso.
Do ciclo de ouro à crise
Principal produto de exportação brasileira, o café era o sustento de inúmeras famílias e os Vidotti investiram todo o seu trabalho no grão: “O meu avô abriu aquela fazenda para plantar café e tornou-se um grande produtor, chegando a cultivar 75 mil pés! Montamos uma máquina de beneficiamento e fomos crescendo com o nosso trabalho”.
Mas, a vida reservava à família Vidotti inúmeros desafios que, com determinação e sagacidade, foram superados ao longo da jornada.
A crise deflagrada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em outubro de 1929, teve reflexos imediatos em praticamente todos os países, especialmente na cultura cafeeira. Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro.
Com a crise, a importação do café diminuiu muito e os preços do grão despencaram. Para que não houvesse desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café.
“Perdemos tudo com a crise. Sem comprador para o nosso café, nós não conseguimos pagar as nossas dívidas. Os produtores que eram registrados no governo tiveram direito à moratória. Mas, esse não era o caso do meu avô, que precisou queimar todo o seu café e ficou com muitas dívidas”, lamenta o produtor.
Com o fim do ciclo de ouro da cafeicultura, a família Vidotti uniu forças para continuar trabalhando na lavoura. Para pagar as dívidas, a fazenda Santa Maria foi colocada à venda e os Vidotti começaram a escrever uma outra página, em uma pequena propriedade em Monte Azul Paulista, investindo na diversificação de culturas.
Segundo Clodomiro, nessa área tinham moinho de fubá, moinho roda d’água, máquina de benefício de arroz e café: “Além da roça, também comercializávamos milho para as refinarias e, com a máquina de café, exportávamos o grão.
Foi emprestando de um aqui e de outro acolá que seu Ardelino conseguiu honrar as dívidas. “A coisa foi engrenando, a população acreditava e confiava muito no meu pai. Ele não tinha dinheiro, mas tinha crédito, honestidade, muito trabalho e bons amigos. Após muito trabalho, acabamos pagando todo mundo. E assim, conseguimos tocar o barco em frente”, orgulha-se.
Criando raízes profundas com a lavoura
Ardelino casou-se com Noêmia Bizarri e, desta união, nasceram os filhos Clodomiro, José Carlos, Valentim, Virgínia, Lúcia Vitória, Anália, Izena e Ardelino Vidotti Filho. “Tenho oito irmãos, dentre eles, um que é adotivo, afilhado do meu pai, o Delcídio. A mãe dele ficou com vários filhos e meu pai criou seu afilhado. A minha mãe criou oito filhos e mais um – eu sou o mais velho deles”.
Primogênito, Clodomiro nasceu no campo e viveu uma infância feliz ao lado da família! Por isso, criou um amor muito grande pela terra e pela lavoura. “Sempre trabalhei, desde criança, mas tive uma boa infância, nadava no rio e brincava de roda. Era uma vida simples, porém feliz”, recorda-se, com um grande sorriso no rosto.
“Era muito comum os filhos, ainda crianças, trabalharem ao lado do pai nas atividades agrícolas. Eu aprendi a executar várias funções, eu era o coringa na fazenda. Trabalhei como motorista, toquei a roça, fui tirador de leite… Era uma luta tremenda! Eu acordava às 4 horas da manhã para tirar leite, mas sempre gostei de trabalhar – e trabalhava feliz!”.
Polivalente, Clodomiro também trabalhou em uma farmácia: “Apliquei muita injeção! Naquele tempo, fazíamos aplicação na casa dos pacientes. A única coisa que não fiz foi carpir com a enxada, mas de resto, já fiz de tudo, até cesariana em porca”, revela o produtor, bem humorado.
“Era o papai que sempre aplicava as injeções na gente”, reafirma a filha, Rosana.
O clã dos “Ros”
Clodomiro, que é popularmente conhecido como Bilão, casou-se com Iolanda Penariol Vidotti em 30 de janeiro de 1957. Desta união, nasceram Rosângela, Rosemeire, Rogério (in memoriam), Rosana e Rosemara. “Namoro com a minha esposa desde pequeno. A minha sogra foi visitar a minha mãe e a levou quando tinha apenas um mês de idade”.
“Namorávamos aos domingos depois da missa. Quando estávamos nos conhecendo, ficávamos conversando por horas”, recorda-se.
“Como os nomes de todos os filhos começam com a letra R, temos uma propriedade que se chama sítio dos Ros”, conta Rosana. Em abril de 1973, Clodomiro mudou-se para a casa onde vive até hoje. O lugar tornou-se a grande morada da família, um lugar de acolhimento, união e confraternização.
Em certa ocasião, porém, o imóvel fora vendido em conjunto com outro negócio da família: “Essa casa foi comprada pelo Suhail Ismael, de Bebedouro, por seis mil cruzeiros e eu fiz uma proposta a ele para comprá-la de volta”, conta, o produtor rural, recordando-se da forma como abordou o construtor.
“Cheguei ao escritório do turco e me apresentei: ‘Sou filho do Ardelino Vidotti, moro na casa que o senhor comprou e queria saber por qual valor o senhor me venderia. Não desprezando a minha casa, mas o senhor já a comprou por um preço elevado, já que a casa estava em questão de miséria e precisa de reforma’. Ele disse para eu fazer uma proposta e fiz meus cálculos, propondo comprá-la por 4,5 mil cruzeiros”, conta Clodomiro, com riqueza de detalhes.
“Lembro-me no dia que ele veio almoçar no antigo restaurante da cidade. Ele passou em casa, tomou um café e fechamos o negócio. Ele me vendeu essa casa. Nunca tive dinheiro, mas lutei bastante para conseguir tudo o que eu tenho”, afirma Bilão.
“Os cinco filhos nasceram nessa casa, tínhamos muito amor por ela. O nosso endereço e telefone sempre foram os mesmos, pois nunca saímos daqui.”, enfatiza Rosana.
Em 2022, Clodomiro e Iolanda completaram 67 anos de casamento: “Ela é uma companheira fora de série, que eu amo demais. Tivemos muita sorte nesta vida e a minha esposa me acompanha para que eu não faça besteira. Antes de termos a nossa casa moramos com a minha família. Ela lavava, passava e cozinhava – e fez isso por 18 anos. Ela ajudou a cuidar dos meus irmãos mais novos, Valentim e José Carlos, que eram todos solteiros. Ela segurou as pontas até termos a nossa casa”, reconhece o marido.
Abrindo as portas para a citricultura
A diversificação de culturas foi a alternativa que a família Vidotti encontrou para permanecer na atividade agrícola. Eles cultivavam algodão, amendoim, urucum, mandioca, milho e arroz, até chegar na citricultura. “Tudo o que tenho hoje, eu devo à laranja. O meu pai não acreditava na cultura, pois sua preferência era o gado. Eu sempre insisti, mas quando o José Carlos voltou para a cidade, passamos a ser dois contra meu pai”.
Para iniciar na citricultura, Clodomiro pediu ajuda ao produtor rural Fábio Rodas, referência na citricultura: “Esse caboclo era muito bom! Quando contei a ele que íamos plantar laranja, ele disse que as mudas ele garantia pelo preço que eu quisesse pagar e comprei cada uma por 20 centavos. Quando plantamos, meu pai ficou como pai de primeira viagem, perguntando as etapas do processo. Na nossa primeira safra colhemos 450 caixas de laranja. Chorei de tanta satisfação, meu pai pegou gosto pela cultura e plantamos 45 mil pés!”.
Um comprador de terras
Com a boa rentabilidade da laranja, Clodomiro comprou seu primeiro sítio. Foi nessa época que desenvolveu habilidade e astúcia nas negociações. “Comprei uma boa terra, com 39 alqueires por 28 mil cruzeiros. Mas, na verdade, eu não tinha dinheiro para comprar. Eu pegava dinheiro emprestado e as comprava. Fazia um título no banco para pagar outro e assim fui comprando outras terras”.
Quem tem amigo, tem tudo! Este ditado popular norteou a vida de Clodomiro, que durante sua vida foi valorizado por seus amigos e também soube valorizá-los. O senhor Antônio Correia, hoje falecido, foi um desses grandes parceiros. Era ele quem Clodomiro procurava quando estava desanimado, quando queria ajuda e também conselhos. “Ele me dava injeção de ânimo. Eu só fazia negócio se o seu Antônio aprovasse”, relata.
Assim como seu pai, Clodomiro revelou-se um administrador nato, que gostava de fazer negócios e investir.
“Eu financiava, mas honrava todos os compromissos e pagava todas as contas. Só perdi o sono uma vez, quando me sobraram 450 mil cruzeiros no bolso. Depois, paguei todos os fornecedores, fiquei sem dinheiro – aí, voltei a dormir bem”, conta, gargalhando.
Assim como fizera com seu pai, Clodomiro trabalha ao lado de suas filhas Rosana e Rosimara. Rosana formou-se em instrumentação cirúrgica e trabalhou em Ribeirão Preto. Depois, casou-se e foi morar na Inglaterra. Em 2016, já de volta à Monte Azul, assumiu a administração das fazendas junto de seu pai e de seu sobrinho, Lúdio.
“O começo foi desesperador, mas aos poucos, fui aprendendo a função. Eu comecei como auxiliar geral do escritório e fui assumindo a administração”, conta Rosana que continua: “O papai nunca ficou sozinho. A Rosimara trabalhou durante 30 anos com o papai. A Rosimeire formou-se em zootecnia e trabalhou algum tempo com o papai, e a Rosângela é dentista, mas seu filho mais velho, Lúdio, também trabalha conosco”.
“Eu concordo com tudo o que ela faz assim como concordava com a Rosimara, pois elas fazem tudo muito bem feito. São administradoras nata”, fala o pai orgulhoso, que continua: “O filho da Rosângela, que trabalha conosco, é meu neto mais velho. Nos primeiros anos [trabalhando juntos] era muita briga entre a gente. Ele sabia a teoria, mas não dominava a prática. Com o tempo, fomos nos acertando e hoje confiamos muito um no outro”, pondera Clodomiro.[1]
A família continua investindo na diversificação, com as culturas de cana-de-açúcar, citricultura, soja, sorgo e pecuária. “Tenho planos de comprar mais alguma terra, estamos com poucos serviços”, diz Clodomiro entre bons risos, e continua: “Cheguei aos noventa anos, foram anos sofridos, alegres, bem vividos e de muito amor. Eu vivo pelas minhas filhas, netos e bisnetos. Eles são a maior riqueza da minha vida! Não posso reclamar da vida, pois só recebi amor. A família do meu pai era só amor. Tinha e tenho paixão pelos meus tios. Fui e sou muito feliz”, conclui.
Uniceres: um grande presente
A relação da família Vidotti com a Uniceres foi construída com respeito, parceria e muito aprendizado.
“O Fábio Rodas incentivou o papai a investir na laranja e esse apoio foi muito importante. Foi o início dessa história” relata Rosana. Há mais de 15 anos, quando Rosemara começou a administrar os bens da família, ela contou com a ajuda da Uniceres, e desde então, a cooperativa contribui muito para que a família tenha uma boa produtividade.
A história da família Vidotti tem uma raiz forte na agricultura e esse legado foi cultivado com base em muita dedicação e amor pelo ofício. Essa bonita história reserva muitos outros capítulos para serem escritos, com a parceria da Uniceres.
A Uniceres se orgulha em fazer parte da história da família Vidotti contribuindo para construção de um legado em constante evolução. A união fortalece a Uniceres e seus cooperados, a continuar nesse importante legado, que é a agricultura.