Muito além do trabalho e da renda, pai e filho encontram na atividade rural um canal de amor e continuidade.
A história da família Hernandes está ligada com a história do café. Desde que seus descendentes desembarcaram no Brasil, em meados de 1896, para trabalhar como meeiros nas lavouras do interior de São Paulo, a vocação para trabalhar com a terra tem passado de geração em geração.
Naquela época, o café era o principal produto de exportação brasileira. Para fomentar a produção, o governo e os grandes fazendeiros incentivavam a vinda de imigrantes para trabalharem nas lavouras cafeeiras. Graças a esse trabalho, os avós do produtor rural Manoel Carlos Hernandes, o Cacau, (in memorian), Manoel Hernandes e Odette Berça Hernandes; conquistaram as primeiras propriedades nos estados do Paraná e São Paulo, um dos polos da cafeicultura.
Cacau deu sequência à tradição cafeeira da família na cidade de Catanduva, interior de São Paulo, e, posteriormente, no sul de Minas Gerais, passando a diversificar a produção ao incluir o cultivo de laranja, seringueira e cana-de-açúcar, sem jamais abandonar o café. A missão de continuar o legado da família foi passada ao seu filho, Paulo Hernandes, que segue à frente da gestão dos negócios da família, investindo numa produção sustentável e apostando em novas frentes, como a soja.
Assim, pode-se afirmar que, literalmente, a agricultura está no DNA da família Hernandes, que chega à quinta geração, com Manoel Carlos Hernandes Neto, o Manu, 24 anos. Com o conhecimento dos mais experientes e com acesso às novas tecnologias, a gestão de Manu promete manter a tradição familiar e a renovação no agronegócio.
Perda irreparável

O falecimento de Cacau, pai, amigo e grande incentivador, ainda é sentido por Paulo: “Meu pai participava de tudo que acontecia nas fazendas, me apoiando em todas as frentes. Ele participava do conselho e foi o meu grande incentivador. É duro perder, especialmente alguém com quem convivemos diariamente”, emociona-se o filho.
Manu, que estuda e trabalhava em São Paulo, demitiu-se do emprego para ajudar a cuidar do avô, que ficou hospitalizado durante cem dias. “A ligação que os dois tinham é algo inexplicável. Foi uma atitude muito bonita do Manu em abrir mão de uma boa oportunidade para cuidar do avô. Com a expansão dos trabalhos no cerrado, eu tinha uma enorme agenda a ser cumprida e o Manu foi meu grande apoio nesse momento”, relata Paulo, com a voz embargada.
O silêncio se faz presente e a emoção deu vazão a dor. É necessária uma pausa para o café para melhorar os ânimos.
Paulo foi pai muito jovem e isso serviu para fortalecê-lo, voltando para as origens da família sem abrir mão de lutar pelos seus sonhos. “Sempre pensei em estudar em São Paulo, trabalhar no mercado financeiro e depois voltar para a Catanduva. Mas me tornei pai aos 19 anos, o que me fez mudar essa sequência”.
Ele se formou em administração de empresas, abriu sua própria empresa de tecnologia de irrigação e estudou fora do país. E desde então, o filho, Manu tem se preparado para dar continuidade aos negócios da família.
Com a morte do avô, Manu mudou seus planos e antecipou sua volta para casa: “A decisão foi bem simples. Eu sempre soube que queria seguir junto com meu pai e meu avô. E, depois de tudo o que aconteceu, entendi que era a hora de voltar. É uma pena que meu avô não esteja mais aqui”, enfatiza o neto amoroso.
Amor à agricultura e dedicação não faltam para explorar todas as frentes de trabalho da família: “Estou trabalhando no setor comercial, mas nos próximos meses vou para o campo, para as novas frentes de café e soja”, comenta Manu, com empolgação.
A transição está sendo realizada de forma promissora. Para o pai, trabalhar com filho tem sido motivo de felicidade e orgulho. “Ao longo desses meses, conversamos muito sobre o que construímos e para quem estamos trabalhando. Precisava de um sucessor e hoje temos”.
De volta ao passado, Sr. Paulo fala com orgulho da trajetória da família com a agricultura: “Tanto a família do meu pai (espanhóis) como a da minha mãe (italianos) trabalhavam como meeiros. Conforme foram ganhando dinheiro, investiam na compra de terras. Como à época não existia adubo, eles buscavam terras férteis. Foi assim que chegaram a São Paulo, abrindo as áreas e produzindo. Meus familiares por parte de pai investiram na troca, o que impulsionou a compra de mais terras. Eles também foram responsáveis pelo primeiro Banco de Café, em Ariranha, na região de Catanduva”, conta.
A estabilidade da economia cafeeira no Brasil foi comprometida com a queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O café não resistiu ao abalo financeiro global e o seu preço caiu bruscamente. Assim como muitos produtores na época, a família Hernandes buscou novas frentes e a citricultura foi uma delas. “Sou a quarta geração e acompanhei todas as oscilações da agricultura. Também investimos na seringueira, mas o foco era a citricultura. Seguimos o fluxo, quando café passou por dificuldades, os produtores investiram na citricultura e, posteriormente, aconteceu o mesmo com a laranja que deu lugar a cana”.
Os bons resultados nas lavouras são reflexo de investimentos nos processos de qualidade, análises dos mercados, estratégias financeiras e diversificação de culturas. “O mundo precisa cada vez mais de alimentos. É importante sempre nos questionarmos sobre a importância das culturas para o mercado a curto, médio e longo prazo. Hoje, uma necessidade mundial é a base proteica. Então, a soja é um importante mercado. Já o café, se reinventou com crescimento do consumo dos especiais”, analisa Paulo.
E para que esta história tenha ainda mais sucesso, o produtor enfatiza a importância dos parceiros. Para a família Hernandes, trabalhar em união, exercer um trabalho de excelência e valorizar todos que sustentam os negócios da família, são riquezas inegociáveis.
“Ao longo desses anos, formamos uma enorme família. Todos os grupos das fazendas, os colaboradores, a equipe de escritório, os que trabalham no campo, o pessoal da UNICERES, sem exceção, todos são tratados como família. São tantas pessoas que se envolvem e abraçam todas as frentes. Sem eles, não chegaríamos a lugar algum”, fala com carinho.
Novos horizontes, preservando a tradição
A cafeicultura brasileira vem se reinventando e um novo polo do grão vem se estruturando, com novas variedades na região norte de Minas Gerais, próximo à divisa com a Bahia.
A região cafeeira está compreendida em áreas com altitudes entre 700 e 900 metros, nas cidades mineiras de de Águas Vermelhas, Ninheiras, Berizal, até Taiobeiras. “Um oásis”, é assim que define Paulo ao se referir a área. Assim como seus antepassados, o produtor rural teve que desbravar a região, planejando a abertura de estradas e as áreas para o plantio das primeiras mudas de café.
“É um projeto ousado que resgatou a experiência da primeira geração ao começar do zero. Quando chegamos em 2014, não havia energia elétrica no local, trabalhamos durante dois anos com gerador. Vivenciar e entender o que os meus antepassados sentiram ao desbravar as terras foi trabalhoso, mas, ao mesmo tempo, gratificante”, afirma, com orgulho.
Mais do que superar as expectativas, o investimento nas terras mineiras trouxe progresso à região, com a geração de emprego e movimento no comércio local. As primeiras mudas foram plantadas em 2016 e a primeira colheita realizada dois anos depois. “Já são três anos de safra. Quando iniciamos o projeto, a população local abraçou a causa, dedicando-se ao trabalho. Esse ano, a média de colaboradores ficou entre 40 a 50 trabalhadores. Na época da colheita, chegamos a empregar 400 trabalhadores”.
O produtor rural vem imprimindo uma gestão inspiradora dentro e fora do campo, focando na produção de alimentos de maneira sustentável e responsável. Paulo orgulha-se em dizer que todas as fazendas da família são 100% certificadas por suas boas práticas agrícolas. “Grande parte da energia utilizada nessa propriedade é fotovoltaica. Nossa maior usina possui dois mil metros de placas solares. A propriedade tem captação de água de chuva e da água de processo do café, utilizada para fazer a compostagem na parte nutricional, o que exige o mínimo de compras externas. Nada é desperdiçado e tudo é reutilizado”.
E os projetos não param por aí. A família pretende fomentar a educação e o desenvolvimento social. “Estamos fechando parceria com grande empresário para treinar e testar as habilidades de jovens nas áreas agrícolas, mecatrônica, robótica e línguas inglesa e espanhola. A primeira base será em Águas Vermelhas, MG, com a adesão de 20 alunos”.
Parceria de longa data
Um legado não se constrói sozinho. É um trabalho de uma vida inteira com a dedicação de diferentes gerações e apoiadores. Para construir esta história, a família conta com a parceria da Uniceres que imprime “tranquilidade dentro da gestão”, segundo Paulo.
“Com tantos projetos precisamos de bons parceiros e a Uniceres é uma delas. Ela faz parte dos nossos negócios desde o início. A cooperativa vem sempre se adequando às nossas necessidades na diversificação de culturas, se tornando parceira de longa data. O meu tio Hygino foi um dos gestores da Uniceres. Nesta trajetória, fomos fiéis a Uniceres, a quem respeitamos. Acredito que essa união fortalece tanto a gente quanto à Uniceres. A nossa vida é a agricultura, continuar o legado da família e prosperar com o apoio da cooperativa”.
Fazer parte dessa história é o que inspira a UNICERES a representar os interesses de seus cooperados, na busca por condições comerciais diferenciadas para adquirir insumos de qualidade. Afinal, é comprando bem que se produz melhor e ganha-se mais. Colocar em prática os princípios do cooperativismo move a UNICERES a manter seu compromisso para fomentar a agricultura, contribuindo para longevidade das famílias no trabalho no campo.