O amor e a união foram fundamentais para que pai e filho superassem os desafios e continuassem seu legado no campo.
O cultivo da laranja foi introduzido no Brasil ainda no período colonial, entre 1530 e 1540. Mas, foi a partir de 1960 que a citricultura deixou de ser uma alternativa
ao cultivo do café e assumiu um papel economicamente importante para a agricultura brasileira. E há quase meio século ela está presente na família Lavrado, do vilarejo de Marcondésia, interior de São Paulo.
Mas essa história começou muito antes da citricultura. Ela tem início com a chegada dos casais Pilar e Manuel Centeno e Marcelina e Francisco Lavrado, que vieram da Espanha para trabalhar nas lavouras de café do Brasil.
O casal Lavrado primeiramente se estabeleceu em Araras, interior de São Paulo.
Logo depois, mudou-se para a fazenda Monte Rosa, na cidade de Monte Azul Paulista. Depois partiram para o vilarejo de Marcondésia, para trabalhar para a família Centeno, que tinha um empório na cidade.
O enlace de Amparo Centeno e Nicolau Lavrado uniu as duas famílias, que permaneceram na agricultura. Desta união, nasceram os filhos Carlos, Mário,
Leida (in memorian), Ademir e Maria Helena.
Carismático e com riqueza de detalhes, Mário conta que quando seus pais se casaram foram morar em São Caetano do Sul.
“Meu irmão mais velho, eu e a Leida nascemos em São Paulo. Meu pai trabalhou na Cutrale, na parte de exportação. Em Marcondésia cultivamos café e criávamos gado”, conta Mário.
A alta rentabilidade da laranja atraiu muitos produtores e o café cedeu espaço para citricultura. A primeira safra da família Lavrado foi colhida em 1976 e vendida para a Frutesp Agrícola.
“Começamos com seis alqueires e conforme fomos crescendo, fomos comprando mais terras e plantando mais. A laranja dava dinheiro e tínhamos abertura de mercado. Era um tempo muito bom”, recorda-se Mário, com saudosismo.
Em outubro de 1988, Mário casou-se com Marina e tiveram os filhos, Murilo e Sarah. “A família foi crescendo e continuamos investindo na laranja. Na época também éramos sócios da Frutesp e, quando a indústria foi vendida, investimos a nossa parte na compra de propriedades”, conta Mário.
De pai para filho
A afinidade de pai e filho é notável. Murilo herdou do pai a paixão pelo trabalho no campo. Ao longo de toda a entrevista, faz questão de reforçar o amor que sente pela agricultura e, especialmente, pela citricultura: “A laranja está no sangue e hoje é a nossa principal cultura. Cresci rodeado de pé de laranja e tenho boas recordações desta fase. Lembro-me que estudava em Marcondésia, quando chegava da escola fazia questão de trabalhar na lavoura, de regar as mudas e de aprender com o meu pai o cultivo da terra. Gostava de estudar e tirar boas notas, mas também queria estar no campo apreendendo”.
E foi colocando a mão na terra que Murilo aprendeu todas etapas do cultivo. A mãe, Marina, orgulha-se. “Eu ficava desesperada vendo-o, pequeno, subir em cima do trator. Mas, era difícil segurá-lo. Ele sempre gostou da terra, está no sangue!” reforça.
O ofício do pai inspirou Murilo na escolha de sua profissão: Engenharia Agronômica. “Meu pai tinha muito conhecimento, mas não teve oportunidade de estudar”, diz o filho, que se formou na Fafram, Fundação Educacional de Ituverava, interior de São Paulo.
A tempestade
A citricultura viveu ciclos distintos e atravessou adversidades, passando da Era de Ouro até uma fase implacável nos anos 2000, quando as dificuldades em torno da produção e o surgimento de novas pragas e doenças fizeram com que muitos produtores migrassem para outras atividades.
Em 2012, veio outra fase inclemente, quando produtores chegaram destruir seus pomares porque não tinham para quem vender a fruta. “Foi uma fase lamentável, com pomares sendo erradicados. Eu não tinha contrato e também fiquei sem vender a minha produção. A caixa da fruta passou de R$12 a R$6 e não cobria os custos de produção. O governo lançou um subsídio, mas não foi suficiente para a nossa recuperação. Precisei plantar cana-de-açúcar para diversificar, mas também não tinha tanto lucro. Foi um período muito difícil”, recorda-se Mário.
“Passamos por muitas dificuldades até mesmo para arcar com os meus estudos.
O que nos salvou foi produção de banana-maçã, que vendíamos com facilidade.
Foi assim que conseguimos pagar a faculdade. Com a laranja, pagávamos os empregados e a cana dava um suporte”, conta Murilo.
A escolha
Mesmo diante de muitas dificuldades, Murilo se formou e começou a trabalhar naárea, na BioSoja, hoje grupo Vittia. “Trabalhei em Porto Ferreira e Casa Branca.
Recebia um bom salário e tinha alguns benefícios, como hospedagem e alimentação, arcados pela empresa. Lembro-me que meu chefe, Renato Brandão, dizia que iria me treinar para que eu crescesse dentro do grupo. Sempre fui dedicado e em seis meses recebi a promoção para me tornar coordenador-técnico”.
Mário conta que sentiu orgulho do filho ao ser reconhecido no trabalho. Mas, pediu que ele tomasse uma decisão difícil: a promoção ou assumir os negócios da família: “Ele pediu que eu escolhesse com uma leve pressão”, conta Murilo, rindo.
“Ele me falou que estava difícil administrar sozinho, que teria que investir em irrigação e que se, por acaso, eu optasse pela promoção, iria erradicar os pomares de laranja para plantar cana. E tchau e benção”, conta Murilo.
“Tive que pressionar. Já estava na hora dele começar a tocar os negócios”, completa Mário, confiante na escolha do filho: “Enviei uma carta ao meu chefe explicando tudo e agradecendo a oportunidade, mas que estava saindo da empresa para trabalhar nos negócios da família. Eu tenho amor pela terra e por tudo o que meu pai construiu. E quando cheguei aqui, trabalhei – e trabalhei duro”, conta Murilo.
A família Lavrado é muito acolhedora. Só quem tem coragem para enfrentar as dificuldades tem a certeza de que depois da tempestade vem a bonança.
A volta por cima
Pai e filho seguiram em frente e construíram um futuro, aproveitando a janela de oportunidade, desenvolvendo soluções estáveis e de longo prazo. A família investiu em novas tecnologias, na administração regular dos produtos para controle fitossanitário, nas boas práticas, na modernização do manejo e na busca por alternativas comerciais.
“Tivemos que nos adaptar, renovar e investir em tecnologia. Mesmo na crise, tínhamos uma boa estrutura, o que nos manteve na atividade. Mas, estávamos descapitalizados e um ano antes da crise, tínhamos acabado de comprar uma propriedade. Era necessário investir para sairmos dessa fase”.
Para o feito, a família vendeu uma de suas propriedades: “Com isso, pagamos todas as dívidas, investimos em irrigação em todas as propriedades, na agricultura de precisão e na renovação de pomares. Não tenho mais pomares velhos. Se ficarmos três anos sem plantar um pé de laranja me dá faniquito”, conta Murilo.
A família também investiu na diversificação de frutas, com o plantio de abacate, poncã, limão tahiti, tangor murcott e na energia renovável, com a instalação de placas fotovoltaicas. “Atualmente, produzimos 90% de energia, com 13 mil kWh/mês e a outra instalação deve gerar 8 mil kWh/mês”, conta Murilo, com orgulho.
Com tantos investimentos, o retorno foi surpreendente. A família quintuplicou a produção de laranja, cuja destinação é 60% para a indústria e 40% para a mesa: “O meu sonho é reverter isso, com maior destinação para o mercado de mesa. Em breve, a antiga casa da minha avó será a nossa sede, com escritório central, e mais para frente queremos implantar um barracão de fruta”, revela Murilo.
Com muito trabalho, pai e filho realizam seus sonhos na vida profissional e pessoal, depois de superar inúmeros desafios no campo. Murilo casou-se com a também engenheira agrônoma Danila, com quem tem o filho Lucas, de 1 ano, a nova alegria da família!
“Nos vimos na faculdade e anos depois a gente se reencontrou”, conta Danila.
“Agora, estamos trabalhando juntos e ela está trazendo toda a sua bagagem de gestão e organização. Moro no campo para estar mais perto dos meus pais e espero que assim como eu, meu filho também cresça com raízes na agricultura e dê continuidade ao nosso legado”, comenta Murilo.
Orgulho de ser Uniceres
A história da família Lavrado com a Uniceres é recente, começou há seis anos, mas já tem raízes profundas.
“Somos novos cooperados e sempre quisemos fazer parte da Uniceres porque ouvíamos outros produtores falarem muito bem da cooperativa. Quando fomos convidados a fazer parte desse seleto grupo, entendemos o porquê, e só ganhamos com essa união”, avalia Mário.
Para Murilo, a cooperativa oferece segurança: “A Uniceres é uma cooperativa acolhedora, é como estar em casa. Hoje, 90% do que investimos em insumos é através da Uniceres, que é uma parceria forte”, conta.
Pai e filho também elogiam os conteúdos das Rodadas de Conhecimento da Cooperativa. “Meu filho é pequeno e por isso não consigo ir até a sede para participar presencialmente, mas tenho acompanhado tudo online. Já os meus pais têm frequentado todas”, completa Murilo.
O amor e a união entre pai e filho amparou a família para superar os desafios e a continuar na citricultura. A Uniceres se orgulha em fazer parte da história da família Lavrado, apoiando e contribuindo para longevidade das famílias no trabalho do campo.
A união fortalece a família Lavrado, assim como fortalece a Uniceres e seus cooperados, no desenvolvimento de sua história de vida no campo.