O Brasil recebeu um fluxo enorme de italianos em meados do século XIX e início do XX. A população italiana, nesse período, estava arrasada. O país passava por um processo de industrialização e não havia emprego para todos que saíam dos campos em direção às cidades.
Do outro lado do Atlântico, o Brasil surgia como a terra das oportunidades. Em busca de uma nova esperança de reconstruir sua família e suas vidas, o casal de italianos Giovanni Pugliero (marcando a origem da grafia com a letra “o”) e Giocomina Masiero, ambos com 29 anos, partiram de Veneza para Gênova, onde embarcaram no Navio Minas, rumo ao Brasil, em 25 de agosto de 1897. Começava ali, a história da família Puglieri no Brasil.
Depois da longa e cansativa viagem, que durou cerca de 30 dias, o casal desembarcou no porto de Santos e se estabeleceu em Santa Cruz das Palmeiras, SP, para trabalhar no cultivo de café. Desta união, nasceram quatro filhos. O mais velho, Paschoal, veio da Itália. Alexandre já nasceu em solo brasileiro, em 23 de novembro de 1902, em Santa Cruz das Palmeiras. Depois, vieram Ettore, Rosina e Angela Carolina.
Segunda geração
O sonho de crescer e ter sua própria terra levou a família Puglieri à Marcondésia, distrito de Monte Azul Paulista. Há cerca de 90 anos, os três irmãos, Paschoal, Alexandre e Ettore compraram uma propriedade que se tornou o berço da família. Sempre motivados a evoluir, a união foi o caminho percorrido pelos irmãos para enfrentar os desafios do dia a dia. Cada um seguiu seu caminho, mas sem perder suas raízes na agricultura.
Alexandre casou-se com Tereza Tognon e teve 10 filhos: Amélia, João, Raphael (faleceu 3 dias após o nascimento) Aparecido, Elvira, Maria Carolina, Avelino, Ângela Carolina, Valdemar e Anésio. “Todos trabalharam na agricultura, homens e mulheres. Dos nove filhos dos meus avós, nem todos puderam estudar. Era uma dificuldade enorme. Eram quatro quilômetros a pé para chegar ao Grupo Escolar de Marcondésia. Na época, as mulheres não estudavam e meu pai e seus irmãos mais novos conseguiram terminar o primário”, conta Norival, filho de João.
Quem trabalha no campo sabe que a vida é dura, o cultivo é cansativo, mas a colheita é sempre festiva e recebida com gratidão. “A família começou produzindo café e gado. Tudo que se produzia era para consumo local, menos o café que era para fins comerciais. Na época, só se comprava quatro coisas: rolo de fumo, açúcar, farinha e sal. Plantávamos também feijão e arroz e milho para alimentar as galinhas e os porcos”.
Com riqueza de detalhes, Norival conta que, todo o final de tarde, o seu avô Alexandre se reunia com os irmãos. “Eles sentavam debaixo de uma mangueira e conversavam sobre o dia, contavam histórias. Não existia rádio e televisão. Ali, debaixo daquela árvore, eles se alinhavam e proporcionavam esse ambiente familiar gostoso”, recorda-se.
Terceira geração
Ao lado dos seus irmãos, João Puglieri cresceu no campo e o constante contato com a natureza mostrou que a agricultura permaneceria no seio da família. Ele encontrou na agricultura a maneira de realizar seus sonhos e abrir novas oportunidades para as futuras gerações. O sonho de construir sua própria família aconteceu com Ana Maria Hespanholi, com quem tivera dois filhos, Norival e Ivanir.
As lavouras de café cederam espaço para a diversificação de culturas, dentre elas, a laranja, presente há mais 50 anos nas lavouras da família. Atualmente, a citricultura é a principal atividade. A família também investe em cana-de-açúcar, seringueira e mogno africano. O cacau, banana e o café também são cultivados em um experimento de 6,6 hectares.
“O meu pai saiu um pouco da curva do agronegócio na região. Enquanto os produtores investiam no café, arroz e milho, ele plantava também algodão, amendoim e mamona”, conta Norival.
Quarta geração
A missão de continuar o legado chega na quarta geração, com os irmãos Norival e Ivanir.
A agricultura e o empreendedorismo se fizeram presentes ao longo da jornada dos irmãos, mas em momentos diferentes. Cada um foi em busca de seus sonhos e ambos receberam o aval do pai João.
Na capital paulista, Norival formou-se em administração de empresas e cursou pós-graduação em sistemas e métodos. Comunicativo e com uma enorme facilidade em trabalhar com o coletivo, Norival alçou voos altos e tornou-se um grande líder. Em São Paulo, ao longo de 40 anos, ele construiu uma carreira e família sólida, ao lado da esposa Helena Maria dos Santos, e dos dois filhos Sabrina e Rafael. “Sempre fui muito dinâmico, gostava de esportes e o ritmo do interior não combinava comigo”, fala Norival. Já Ivanir continuou vivendo no interior, mais precisamente em Monte Azul Paulista. Ao lado da esposa, Maria Aparecida Fioresi, criou os filhos Mateus e Marcelo.
Com criatividade, empreendedorismo e a força de trabalho, Ivanir deixou marcas profundas na região que o acolheu, como uma herança eterna de amor e gratidão. “Ele morava em Marcondésia e trabalhava numa oficina mecânica em Monte Azul. Com dificuldade, fazia esse trajeto todos os dias. Primeiro, ia de bicicleta, depois passou a ter carona até conseguir acomodação numa casa dos donos da oficina mecânica. E assim ele foi trabalhando até se tornar o dono. Ele sempre foi visionário”, diz o irmão, saudoso.
Mesmo empreendendo em outra área, Ivanir deixou suas raízes no agronegócio. Na oficina mecânica, ele trabalhava com o maquinário agrícola. Todos os agricultores de Monte Azul levavam seu maquinário ou ele ia a campo para consertar. Ele sempre soube aproveitar as oportunidades e encontrar soluções para os problemas.
“A sua grande paixão era a atividade industrial. Ele sempre dizia que esse trabalho era para seus filhos. Todos gostavam muito dele. Costumo dizer que ele era o camisa 10, aquele que articula a defesa e o ataque, além de saber apaziguar as situações. Todos falam dele na região com muito amor, muita paixão e muita saudade. O meu pai também era assim. Essa árvore está construindo uma ramificação do bem”, ressalta Norival.
De volta às raízes
Para os Puglieri, a família é algo sagrado! E esse amor fez com que Norival mudasse seus planos e voltasse para a região em 2011, mais precisamente em São José do Rio Preto. Era a hora de ajudar os sobrinhos Mateus e Marcelo nos negócios e perpetuar o legado da família. “Voltei por um motivo muito triste. Meu irmão estava muito doente vindo a falecer em 2012”, conta Norival.
Foi um dos momentos mais difíceis onde a família aprendeu que o amor e a união ajudam a amenizar a dor. “Em quatro anos, eu perdi os meus pais e os pais do Mateus e do Marcelo. Se não fôssemos uma família unida, essa tragédia teria nos desestruturado. Mas, demos continuidade à vida. A amizade que recebemos das pessoas de Monte Azul foi preciosa. Todos estavam de braços abertos para a gente”, recorda-se Norival.
“Com essas tragédias todas, ele se aproximou muito mais da gente. Ele tem nos ajudado muito e temos aprendido muito com ele, que se tornou um segundo pai para nós”, reconhece Marcelo.
O depoimento de Marcelo comove Norival. “Agradeço as palavras. A vida passa muito rápido. Então, continuem estudando, abram a cabeça para o novo, conheça outros lugares e aprendam com eles”, aconselha o tio.
“Éramos muito unidos. O meu pai era uma pessoa extraordinária, visionária, super pai e um companheiro. Íamos para a fazenda e fazíamos tudo junto. Ele tinha um brilhantismo em negociar como ninguém e como trabalhei com ele na oficina, quando jovem aprendi muito com ele em como negociar. Ele faz muita falta”, diz Marcelo, saudoso.
Mateus também lembra com carinho dos ensinamentos do pai: “Nossa relação sempre foi muito boa. Ele sempre nos apoiou em relação ao estudo e trabalho. Aprendemos muito com ele desde que iniciamos nessa terra”.
Quinta geração
Com o conhecimento e a experiência do tio Norival, os irmãos Mateus e Marcelo mantêm a tradição familiar e a renovação no agronegócio. Desde que finalizou o ensino médio, Marcelo se dedica aos negócios da família, com foco na indústria química. Já Mateus formou-se em engenharia elétrica, mas continuou no segmento familiar ao cursar pós-graduação em agronegócio e em administração.
“Temos um bom entrosamento e com união e diálogo sempre chegamos ao bom senso”, relata Mateus.
Os irmãos herdaram de Ivanir o tino para os negócios. Juntos, em 2006, fundaram a Ares Clean, empresa referência no mercado de higiene profissional e institucional: “Queríamos produzir sabonete, mas não sabíamos nada sobre o setor. Lembro-me que ligamos para uma empresa que vendia matéria-prima e perguntamos como era feito. Nos indicaram um químico argentino. Ligamos para ele, mas não entediamos nada do que ele falava. Então, convidamos ele para vir para cá”, conta Mateus.
Com a chegada do químico, os irmãos começaram a estruturar o negócio. “Passamos a conhecer mais sobre o setor e mudamos todo o formato do projeto. Investimos numa gama maior de produtos”.
Sucessão
A agricultura está presente na história da família Puglieri há quase 125 anos. E sucessão é um assunto recorrente entre os membros. “Apesar de estar com saúde, eu já tenho 71 anos, então pretendo montar um plano de sucessão. Minha filha Sabrina com o marido Sergio resolveram empreender no mercado de vinhos, moram em São José do Rio Preto e tem os filhos Laura e Jorge. Já meu filho Rafael mora fora do país com a esposa Ilaria e o filho Leonardo e trabalha com o agronegócio
Mateus casado com a Lara tem o casal João e Catarina. Marcelo tem dois filhos, Felipe e o Pedro. “Pode ser que os nossos filhos tenham vocação para a área e deem continuidade”, almeja Marcelo.
Uniceres: presente em diferentes gerações
Um legado não se constrói sozinho. É um trabalho de uma vida inteira com a dedicação de diferentes gerações e apoiadores. A família Puglieri chega à sexta geração e conta com a parceria da Uniceres para continuar sua trajetória na agricultura.
“A história da família com a Uniceres começou com o meu pai João. Meu irmão Ivanir deu continuidade. A administração do “Niwtinho” é uma gestão inovadora e a cooperativa tem ganhado espaço ao investir no modernismo. Isso é muito bom”, elogia Norival.
“Trabalhamos juntos desde a época do meu avô. Além de fornecer produtos, a Uniceres ajuda a balizar os preços, tornando-os mais acessíveis. Agora, com uma nova administração, melhorou muito a questão de assistência, campanhas de compras, agilidade na expedição e também com treinamentos “, relata Mateus.
Fazer parte dessa história é o que inspira a Uniceres a representar os interesses de seus cooperados, na busca por condições comerciais diferenciadas na compra de insumos. Colocar em prática os princípios do cooperativismo move a cooperativa a manter seu compromisso para fomentar a agricultura, contribuindo para longevidade das famílias no trabalho no campo.